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A baleia em New Bedford

Há uns dias, foi o grande dia. Sair de Providence, mas mais do que isso, chegar a New Bedford. Chovia. Muito. E eu comecei a manhã muito cedo, para me encontrar com o meu companheiro de aventura e de pesquisa, a caminhar. Muito. Não foi fácil identificar o ponto de encontro que tínhamos combinado e menos ainda continuar a caminhar por bem mais meia hora até chegar ao café. Digo, à pastelaria portuguesa de Tautun Street em East Providence. Mas valeu a pena. Muito. Depois de entrarmos na luz dourada e quente da loja, as montras cheias de pão fresco e cheias de ainda mais douradas delícias da pastelaria portuguesa, fizeram rapidamente esquecer a dor nas pernas, o cabelo molhado, o peso do casaco e as horas longas que ainda nos aguardavam. Depois de um pão quente com queijo e manteiga e de um café com leite ao estilo de Lisboa, a nossa boleia chegou e não muito depois chegámos a New Bedford. Valeu a pena. Valeria a pena caminhar todos os caminhos do mundo para chegar a este fim da

Yangtze e cetáceos em vias de extinção

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Apresento-vos Yangtze. Não o imenso rio que atravessa parte da China e desagua no Mar da China, não o maior rio da Ásia e o terceiro maior do mundo, mas antes o meu parceiro de viagem para os próximos meses. Yangtze, o meu pequeno monstro marinho. Ainda assim, o seu nome não deixa de ser inspirado no Yangtze real, mais do que isso, inspirado num dos seus mais famosos habitantes. Famoso, ainda que pelas razões erradas. Vivia no Yangtze, sendo endémico da zona central e jusante deste rio altamente poluído e sofrendo o severo impacto negativo de inúmeras atividades antropogénicas, o Baiji ( Lipotes vexillifer ). Este pequeno golfinho de rio considerado  como criticamente ameaçado pela IUCN desde 2008 (1), foi posteriomente dado como extinto desde 2016 depois de uma expedição não ter detetado nenhum animal no seu habitat já altamente reduzido (2). O Baiji foi efetivamente o primeiro cetáceo extinto como resultado direto da ação humana na atualidade, não existindo já nenhum indivíduo

Marine animals and maritime communities

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Marine animals and maritime communities in the early modern Atlantic Over time, humans have been using and exploiting the natural living resources of seas and shores for their own convenience and profit. Coral, pearls, seashells, turtles, fishes, seabirds and marine mammals were, and are still, an important source of resources ranging from exchange currency to food items as even to daily life instruments, and for that reason they have been gathered, captured or hunted. They all became important economic activities in early modern oceans with severe impacts both in the ecology of marine ecosystems and in the human populations who relied on them. Whale hunting, for instances, was the most extensive form of exploitation of a living resource and the history of whaling is a classic example of the relation between humans and a given natural element. This activity can be tracked through time and space, from immemorial times to nowadays, and reveals social, cultural and economic as

New Science From Old News

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Presenting " Sea monsters in the early modern Portuguese production and transfer of knowledge about the natural world  " Capture, trade and collection of marine animals - specimens, remains and products, stories and illustrations - has a documented history that changed dramatically with the European Overseas expansion. Since the 15th and 16th century many exotic animals and several accounts, descriptions and representations, were brought to Europe opening up a new period in the global economy of Nature and in the making of the natural history. Most European naturalists, and practitioners, showed an ability to observe and comprehend the new (local and distant) natural world. Naturalists n their cabinets, through their connections or local journeys, greatly enlarged the knowledge about Nature. But the accounts from pilots, travelers, traders, missionaries and other, offered a significant contribute to the writing of a new Natural History. Moreover, local people in different

Serei uma sereia?

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"I'm not sure if I can say that I'm not a mermaid..." Estas palavras são de Tara Pederson no seu livro "Mermaids and the Production of knowledge in Early Modern England", mas também poderiam ser minhas. Esta sensação de que em cada um de nós existe potencialmente um monstro e um anjo, que em cada pessoa coabitam categorias paradoxais que podem tomar diversas formas e caráter, é cada vez mais premente. A sereia é o paradigma perfeito de tal contradição, dessa essência dúbia em que nos criamos, construímos e movemos. Somos isto e aquilo, somos claramente muito mais do que o que cabe em caixinhas etiquetadas. Somos todas as possibilidades. Sinto que somos todos sereias belas e sereias assustadoras, que todos podemos encantar e assustar na mesma medida, há apenas que direcionar o nosso potencial para o objetivo mais determinado. Somos todos belas e monstros, num mesmo corpo. Tal como Tara, eu não tenho a certeza de que não seja uma sereia. E enquanto sou e nã

Tempestades

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As tempestades fazem parte do nosso mundo, são eventos extremos e inesperados que nos desenraizam totalmente e tornam a vida diária complicada, confusa, caótica, descontrolada. Nos nossos tempos assumem o nome de pessoas e afetam pessoas (1). Já não são o resultado de males humanos, dizem, embora eu acredite que devíamos voltar atrás neste conceito e pensar quais são os atuais pecados da humanidade que nos estão a conduzir  a todos nesta direção, direitinhos para o centro da tempestade, num caminho possivelmente sem retorno. As tempestades sempre existiram, mas não ao ritmo alucinante a que hoje em dia se sucedem. As tempestades sempre existiram, causando morte e destruição na sua passagem. Mas tanta como hoje? Por esse motivo, e tal como todas as situações que não queremos que nos aconteçam, ou para as quais queremos estar prevenidos, a humanidade desenvolveu tecnologia para a previsão destes acontecimentos climáticos. Previsões que às vezes funcionam. Na ausência das técnica

Mermaids and Manatees

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Mermaids and Manatees Mermaids, manatees, and hybrid representations of both marine beings, offer a good case for debating the construction of an early modern history of exotic natural history, of knowledge construction, evolution and circulation as well as of key actors involved (including local agents across the Atlantic world). This brief animation show you the main highlights of a soon to be published book chapter by Cristina Brito. CHAM Youtube Channel